quarta-feira, 12 de março de 2008

MUKHTAR MAI - GRANDE IRMÃ


A paquistanesa Mukhtar Mai apertou seu exemplar do Corão contra o peito quando ouviu, na presença de mais de 100 homens, a sentença que o conselho de sua aldeia acabara de lhe impor: um estupro coletivo.
Integrante de uma casta inferior, Mukhtar fora até lá apenas para pedir clemência para o irmão mais jovem.
Era ele o réu no julgamento.
Estava prestes a ser condenado à morte por ter se envolvido com uma mulher de um clã superior, fato nunca inteiramente esclarecido. O líder tribal – que era o chefe do tal clã – ignorou o pedido de Mukhtar, então com 28anos, e ordenou a punição. Ela foi imediatamente arrastada por quatro homens armados, como "uma cabra que vai ser abatida", segundo sua própria descrição.
Eles a agarraram pelos braços e puxaram suas roupas, o xale e o cabelo.
Indiferentes a seus gritos e súplicas, levaram-na para dentro de um estábulo vazio e, no chão de terra batida, violentaram-na, um após o outro.
"Não sei quanto tempo durou essa tortura infame, uma hora ou uma noite.
Jamais esquecerei o rosto desses animais", conta a paquistanesa.
O impressionante relato de Mukhtar, colhido pela jornalista francesa Marie-Thérèse Cuny, está em Desonrada (tradução de Clóvis Marques; Editora Best Seller; 154 páginas; 29,90 reais), que acaba de ser lançado no Brasil.
Mais do que o desfecho de uma querela tribal, o livro narra como Mukhtar transformou sua tragédia pessoal em uma causa: a defesa dos direitos das mulheres em seu país. E, com isso, tornou-se um símbolo da luta das mulheres no mundo islâmico.

Como normalmente ocorre com as mulheres vítimas de violência sexual em seu país, pensou em suicidar-se.
"Até hoje eu sinto a dor, mas aprendi a mitigar esse sofrimento", disse Mukhtar a VEJA.
"O que me conforta é que abri uma escola para meninas. Quando vejo as alunas estudando e brincando, eu me sinto honrada, é isso que atenua a minha dor."
A camponesa pobre e analfabeta, nascida Mukhtaran Bibi, virou uma ativista conhecida mundo afora pelo codinome Mukhtar Mai, que significa "grande irmã respeitada" em urdu, o idioma oficial de seu país. Seu livro, publicado no ano passado, é o terceiro na lista dos mais vendidos na França. Nele, conta como se deu essa transformação.
Narra sua luta por justiça e relata as barbaridades cometidas contra mulheres em seu país.

Para saber mais REVISTA VEJA

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