domingo, 23 de setembro de 2007

BULLYNG - POR RUBEM ALVES

Eu fui vítima dele. Por causa dele, odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas, eu o via diariamente. Naquela adolescente gorda de rosto inexpressivo que caminhava olhando para o chão. E naquela outra, magricela, sem seios, desengonçada, que ia sozinha para a escola. Havia grupos de meninos e meninas que iam alegremente, tagarelando, se exibindo, pelo mesmo caminho. Mas eles não convidavam nem a gorda nem a magricela. "Bullying" é o nome dele. Dediquei-me a escrever sobre os sofrimentos a que crianças e adolescentes são submetidos em virtude dos absurdos das práticas escolares, mas nunca pensei sobre as dores que alunos infligem a colegas seus. Talvez eu preferisse ficar na ilusão de que todos os jovens são vítimas. Não são. Crianças e adolescentes podem ser cruéis."Bullying." Fica o nome em inglês porque não se encontrou palavra em nossa língua que seja capaz de dizer o que "bullying" diz. "Bully" é o valentão: um menino que, por sua força e sua alma deformada pelo sadismo, tem prazer em bater nos mais fracos e intimidá-los. Vez por outra, crianças e adolescentes têm desentendimentos e brigam. São brigas que têm uma razão. São acidentes. Acontecem e pronto. Não é possível fazer uma sociologia dessas brigas. Depois delas, os briguentos podem fazer as pazes e se tornar amigos de novo. Isso nada tem a ver com "bullying". No "bullying", um indivíduo - o valentão - ou um grupo escolhe a vítima que vai ser seu "saco de pancadas". A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles "não vão com a cara" da vítima. É preciso que a vítima seja fraca, que não saiba se defender. Se ela fosse forte e soubesse se defender, a brincadeira não teria graça.

A vítima é uma peteca: todos batem nela e ela vai de um lado para outro sem reagir. Pode-se fazer uma sociologia do "bullying" porque ele envolve muitas pessoas e tem continuidade no tempo. A cada novo dia, ao se preparar para a escola, a vítima sabe o que a aguarda. Até) agora, tenho usado o artigo masculino, mas o "bullying" não é) monopólio dos meninos. As meninas também usam outros tipos de força que não a dos punhos. E o terrível é que a vítima sabe que não há jeito de fugir. Ela não conta aos pais, por vergonha e medo. Não conta aos professores porque sabe que isso só poderá tornar ainda pior a violência dos colegas. Ela está condenada ? solidão. E ao medo acrescenta-se o ódio.

A vítima sonha com vingança. Deseja que seus algozes morram. Vez por outra, ela toma providências para ver seu sonho realizado. As armas podem torná-la forte. Na maioria dos casos, o "bullying" não se manifesta por meio de agressão física, mas por meio de agressão verbal e de atitudes. Isolamento, caçoada, apelidos. Aprendemos com os animais. Um ratinho preso numa gaiola absorve a informação rapidamente. Uma alavanca lhe dá comida. Outra alavanca produz choques. Depois de dois choques, o ratinho não mais tocará a alavanca que produz choques. Mas tocará a alavanca da comida sempre que tiver fome. As experiências de dor produzem afastamento. O ratinho continuará a não tocar a alavanca que produz choque ainda que os psicólogos que fazem o experimento tenham desligado o choque e tenham ligado a alavanca comida.

Experiências de dor bloqueiam o desejo de explorar. O fato é que o mundo do ratinho ficou ordenado. Ele sabe o que fazer. Imaginem, agora, que uns psicólogos sádicos resolvam submeter o ratinho a uma experiência de horror: ele levará choques em lugares e momentos imprevistos ainda que não toque em nada. O ratinho está perdido. Ele não tem formas de organizar o seu mundo. Não há nada que ele possa fazer. Seus desejos, imagino, seriam dois. Primeiro: destruir a gaiola, se pudesse, e fugir. Isso não sendo possível, ele optaria pelo suicídio.

Edimar era um jovem tímido de 18 anos que vivia na cidade de Taiúva, no Estado de São Paulo. Seus colegas fizeram-no motivo de chacota porque ele era muito gordo. Puseram-lhe os apelidos de "gordo", "mongolóide", "elefante cor-de-rosa" e "vinagrão", por tomar vinagre de maçã todos os dias, no seu esforço para emagrecer. No dia 27 de janeiro de 2003, ele entrou na escola armado e atirou contra seis alunos, uma professora e o zelador, matando-se a seguir.

Luis Antônio era um garoto de 11 anos. Mudando-se de Natal para Recife por causa do seu sotaque, passou a ser objeto da violência de colegas. Batiam nele, empurravam-no, davam-lhe murros e chutes. Na manhã do dia fatídico, antes do início das aulas, apanhou de alguns meninos que o ameaçaram com a "hora da saída". Por volta das 10h30, saiu correndo da escola e nunca mais foi visto. Um corpo com características semelhantes ao dele, em estado de putrefação, foi conduzido ao IML (Instituto Médico Legal) para perícia.

Achei que seria próprio falar sobre o "bullying" na seqüência do meu artigo sobre o tato que se iniciou com: "O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre os deuses Eros, do amor, e Tânatos, da morte. É por meio do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece". O "bullying é) a forma escolar da tortura.
............................................................fonte: Portal Aprendiz, 03/06/2005.
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7 comentários:

Anônimo disse...

fui vítima de bullyng praticamente em toda minha vida escolar... foram anos terríveis, eram xingametos dos colegas, e até de por parte de alguns professores, que faziam vista grossa para o caso

um caso me lembro , tinha 4 anos, numa brincadeira que cada um teria um par... no ínicio não quis brincar, mas logo decidi participar da brincadeira... a professora ( de jardim de infancia) simplismente me empurrou fora da roda, e me chamou de besta... aquilo doeu muito e até hoje dói, minha mãe gostava muito dela, nunca contei do ocorrido até hoje, passados qase 27 anos, guardo isso dentro dde mim

...........
em relação ao colegas , eram xingamentos, rejeições, tinha dificuldade de aprendizado, tirava muita nota baixa, fica todo ano em recuperação, fui reprovada duas vezes... ninguém queria fazer trabalho comigo, sempre era encaixada nos grupo, depois que todos o grupos eram formados,os professores me colocavam no que tinha menor número de alunos.. teve um caso, que fiquei em um grupo , onde todos eram os que mais zombavam de mim...

me colocarm as tarefas mais dificéis... em muitos caso , e mesmo decidia fazer o trabalho sozinha...

Hoje sou adulta, tenho 31 anos, mas as cicatrzes são vísiveis, não sou muito de fazer amizade, as poucas que tenho, foi por aproximação minha.. percebo que até hj nunca nimgué se aproximou de mim, é díficil, lidar com isso, percebo também o Bullyng, no meio profissional, pois Bullyng, não existe só na escola, mas em todo meio social, até mesmo na família...

Daniele Schmidt disse...

Olá, sou Daniele Schmidt, formanda de jornalismo, estou fazendo meu TCC, o tema é bullying.
Gostaria de fazer um convite:
Gostaria de manter contato com vítimas de bullying, para saber a sua história.
O intuito do trabalho é produzir um livro com histórias e apontar alternativas para minimizar os danos causados pela prática do bullying.
A identidade das fontes serão preservadas, para isso será atribuídos pseudônimos a escolha da própria fonte.
Peço a colaboração de vocês. Este trabalho pode ajudar a muita gente.
Desde já deixo meus agradecimentos.

email: daniele_jlle@hotmail.com
msn: daniele_jlle@hotmail.com

Att, Daniele Schmidt.

Anônimo disse...

Também fui vítima durante todo o ensino fundamental e sequelado fiquei por timidez excessiva no ensino médio. Melhorei um pouco no decorrer da faculdade. As marcas ficam e são difíceis de sair. Hoje tenho 33 anos, casado, pai e bem sucedido profissionalmente. Mas não tenho amigos de infância ou colégio. Poucas amizades mais ligadas à profissão. Fico feliz ao ver que hoje o tema é mais debatido e vem tendo atenção nas escolas. Não desejo que nehuma criança sofra as humilhações e perseguições que sofri. Da escola só tenho recordações ruins.

Andréia disse...

Meu nome é Andréia, sou coordenadora em uma escola pública na Grande São Paulo. Infelizmente sinto em dizer que o bullying tem tomado cada vez mais proporções imensuráveis deixando profundas marcas em nossos alunos. O pior de tudo é que muitas vezes tanto o agredido quanto o agressor são pessoas desestruturadas, não temos o apoio da família de ambos, ficando assim toda a carga para a escola. Faremos em nosso Colégio no dia 29 de abril o I dia do diga não ao Bullyng, mobilizando todos os alunos para que pensem sobre seus atos e podermos assim mudarmos um pouco o nosso mundo escolar!!! Nosso e-mail é finpec@gmail.com, conto com o apoio de todos vocês e aguardo comentários e idéias para este dia que eu espero ser o 1.º de muitos na luta contra o Bullyng.

Andréa Landin disse...

Ser agressivo é um comportamento aprendido, e tudo o que foi aprendido pode ser desaprendido.

Para não ter de chegar nesse estágio é bom tomar medidas práticas.

Ensinar os filhos desde pequenos a mostrar empatia pode impedir que se tornem agressivos. Quando eu digo pequenos, é pequeno mesmo! Em que época da vida de uma criança se ensina o falar e o andar? Sou mãe e não tenho dúvida que não devemos subestimar a capacidade de assimilação que as crianças tem.
Não deixe esse treinamento inteiramente a cargo de algum programa escolar. Se não deseja que seu filho se torne agressivo é preciso ensiná-lo, por meio de palavras e de exemplo, a tratar os outros com respeito e dignidade.

Sofri bullyng quando criança,por uma série de fatores não me revoltei por causa disso, porém não espero que todos tenham a mesma reação que eu.

É um erro grande pensar que o bullyng está somente nas escolas. Não hesito nem um pouco em dizer que uma fatia grande cabe aos meios de comunicação em massa, responsáveis por grande parte da formação de opinião da população. Hoje condena-se o bullyng, mas não era assim há 15, 20, ou mais anos atrás. Na verdade colhe-se agora os frutos amargos do que no passado era visto como engraçado e divertido.

Anônimo disse...

Olá tambem já sofri bullyng mas sempre tive o apoio dos meus pais que me orientavam e eu sempre levava na esportiva e terminava ficando amigo de alguns garotos.estou escrevendo o bullyng em cordel e quando terminar mostrarei a todos. Gonçalo Macedo

goncalomaratona@bol.com.br

Anônimo disse...

acho um absurdo, somos todos iguais mesmo com as nossas diferenças.

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