Aprendi com meu povo o verdadeiro significado da palavra educação ao ver o pai ou a mãe da criança indígena conduzindo-a passo-a-passo no aprendizado cultural.
Pescar, caçar, fazer arco e flecha, limpar peixe, cozê-lo, buscar água, subir na árvore.
Em especial, minha compreensão aumentou quando, em grupo, deitávamos sob a luz das estrelas para contemplá-las procurando imaginar o universo imenso diante de nós, que nossos pajés tinham visitado em sonhos.
Educação para nós se dava no silêncio.
Nossos pais nos ensinavam a sonhar com aquilo que desejávamos.
Compreendi, então, que educar é fazer sonhar.
Aprendi a ser índio, pois aprendi a sonhar.
Ia para outras paragens.
Passeava nelas, aprendia com elas.
Percebi que, na sociedade indígena, educar é arrancar de dentro para fora, fazer brotar os sonhos e, às vezes, rir do mistério da vida.
Descobri, depois, que, na sociedade pós-moderna ocidental, educação significa a mesma coisa: tirar de dentro, jogar para fora.
Mas isso fica só na teoria.
Decepcionei-me ao ver que os professores faziam o contrário.
Punham de foram para dentro.
Os sonhos ficavam entalados dentro das crianças e jovens.
Não tinham tempo para sair.
Aprender, para o ocidental, é ficar inerte ouvindo um montão de bobagens desnecessárias.
As crianças não têm tempo para sonhar, por isso acham a escola uma grande chatice.
Não escolhi ser índio, esta é uma condição que me foi imposta pela divina mão que rege o universo, mas escolhi ser professor, ou melhor, confessor de meus sonhos.
Desejo narrá-los para inspirar outras pessoas a narrar os seus, a fim de que o aprendizado aconteça pela palavra e pelo silêncio.
É assim que “dou” aula: com esperança e com sonhos...
Daniel Munduruku é graduado em Filosofia,
tem licenciatura em História e Psicologia e é doutorando em Educação na Universidade de São Paulo.
É autor conhecido nacional e internacionalmente.
Vários de seus livros receberam prêmios no Brasil e no exterior.
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