quinta-feira, 10 de junho de 2010

FILHOS DO MESMO PAI

Dom Helder morava numa casa modesta ao lado da igreja das Fronteiras, no Recife. Frequentemente, as pessoas que tocavam a campainha eram atendidas pelo próprio arcebispo. 
Certa noite, a polícia fez batida numa favela da capital pernambucana, em busca do chefe do tráfico de drogas. 
Confundiu um operário com o homem procurado. 
Levou-o para a delegacia e passou a torturá-lo.
 Pela lógica policial, se o preso apanha e não fala é porque é importante, treinado para guardar segredos. 
Vizinhos e a família, desesperados, ficaram em volta da delegacia ouvindo os gritos do homem. 
Até que alguém sugeriu à esposa do operário recorrer a Dom Helder. 
A mulher bateu na igreja das Fronteiras: “Dom Helder, pelo amor de Deus, vem comigo, lá na delegacia do bairro estão matando meu marido a pancadas”. 
O prelado a acompanhou. 
Ao chegar lá, o delegado ficou assustadíssimo
: “Eminência, a que devo a honra de sua visita a esta hora da noite?” 
Dom Helder explicou:
 “Doutor, vim aqui porque há um equívoco.
 Os senhores prenderam meu irmão por engano”.
 “Seu irmão?!”
 “É, fulano de tal – deu o nome – é meu irmão”. 
“Mas, Dom Helder – reagiu o delegado perplexo -, o senhor me desculpe, mas como podia adivinhar que é seu irmão. Os senhores são tão diferentes!”. 
Dom Helder se aproximou do ouvido do policial e sussurrou: 
“É que somos irmãos só por parte de Pai”.
 “Ah, entendi, entendi”.


Contado por Frei Betto

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