A carta abaixo foi escrita por um membro de AA e enviada à “Veja” em resposta a absurda reportagem sobre os Alcoólicos Anônimos publicada nesta semana:
“Pasmados! Sim, pasmados com a publicação da matéria com o título “É Preciso Dar Mais Do Que Doze Passos”!
Primeiramente, a chamada de página “VÍCIO” está errada, porque o alcoolismo - segundo também a Organização Mundial de Saúde (OMS) - é uma doença física e não simplesmente um vício.
Surpresos, também, pela Irmandade de Alcoólicos Anônimos (AA) não ser ouvida e fazer parte da reportagem, como manda a ética jornalística de se ouvir as partes envolvidas.
O que se constata é uma crítica infundada a AA, totalmente desprovida de bom senso. Os 257 dependentes de álcool enviados ao AA, evidente que poucos resultados apresentariam, comparecendo ao menos uma vez ao mês.
Primeiro motivo: AA tem como uma das suas principais máximas o “EVITE O PRIMEIRO GOLE”, enquanto o PROAD mantém como linha de tratamento a “CONTENÇÃO DE DANOS”, ou seja, o indivíduo pode beber ou usar drogas, mas com o comprometimento de ir diminuindo com o passar do tempo.
Ora, se bebendo ou usando drogas a pessoa perde sua autocensura e suas barreiras morais - como comprovado -, jamais desejará parar de usar álcool ou as drogas; ainda mais apoiado por um órgão “específico”. Lembrem-se que os indivíduos, antes de irem a AA, já faziam parte do Proad.
Em segundo lugar: Nenhum dependente - doente alcoólico, adicto ou cruzado - fará um tratamento sério, como em AA, se tem a permissividade estabelecida por um profissional de saúde.
AA nunca foi contra nenhum tipo de tratamento psiquiátrico, desde que seja necessário e que quem o atenda seja um profissional com profundos conhecimentos do alcoolismo e drogas - raríssimos -, pois a maioria visa somente lucros e nunca deixou o consultório, emaranhando-se em pretensas pesquisas para justificar as grandes verbas de incentivo dos órgãos governamentais.
Sou coordenador-geral do Grupo Girassol de Alcoólicos Anônimos e, com 29 anos de AA, só comprovei o contrário do que as pesquisas da Proad-Unifesp apontaram. Vi e comprovo, sim, que muitas e muitas vidas foram salvas por AA. Vi, também, verdadeiros “milagres” acontecerem.
E não foram só os 9% citados. Muitos membros, antes de frequentarem AA, já haviam frequentado consultórios psiquiátricos, de psicólogos, religiões as mais variadas e nada adiantava; depois de ingressarem em AA, conseguiram deter a doença e, hoje, levam uma vida de construtiva sobriedade e serenidade cotidianas.
Retomaram suas vidas, deixaram de fazer sofrer seus familiares e amigos, voltaram a ser produtivos; muitos retomaram os estudos, formaram-se e alguns tornaram-se psicólogos e psiquiatras
também.
AA FUNCIONA SOZINHO, sem nenhum auxílio de psiquiatras.
Alcoólicos Anônimos não trata de religião - cada qual tem a sua ou não a tem -, denomina como Poder Superior um deus do entendimento de cada membro, que tanto pode ser religioso ou qualquer outra coisa.
Muitos chamam de Poder Superior o próprio Grupo de AA, porém a recuperação não depende da credulidade em um Poder Superior!
AA NÃO COBRA ABSOLUTAMENTE NADA! Ao contrário do que foi dito na matéria, a maioria dos frequentadores de AA não é de classes menos favorecidas - enquanto os programas apresentados na matéria de Veja (também a maioria), são procurados por pessoas de classes muito menos favorecidas.
Deixa-se claro que, em AA não se discrimina ninguém, não há preconceito de nenhuma espécie.
Os Doze Passos de AA representam uma “ferramenta” para os membros lidarem com seus problemas do dia-a-dia. O Primeiro Passo citado é primordial para que o alcoólico se disponha a tratar-se em AA.
Nas reuniões de AA, os membros compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolvermos nosso problema em comum e ajudarmos outras pessoas a se reabilitarem da doença do alcoolismo.
As ditas “reuniões pesadas”, depende de como as pessoas as encaram, mas a grande maioria das reuniões transcorre em clima alegre e descontraído.
Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos”.
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