LUTAMOS POR FALSOS TROFÉUS
Outro dia vi três meninos numa correria desenfreada pelo meio da rua.
Meu primeiro pensamento foi que estavam sendo perseguidos por alguém.
Mas era uma pipa que estava caindo e que precisavam desesperadamente capturar.
Nem tive tempo de repreendê-los mentalmente por aquela
'irresponsabilidade' pois percebi que em minha mente um dos meninos era EU . Que queria pegar aquela pipa cortada pelo cerol afiado num 'cruza' como sensação vívida.
Como era importante pegar aquela pipa, ser a primeira a chegar e depois
Com ela às vezes, irremediavelmente dilacerada, retornar para o grupo com
Aquele (inútil) troféu. Pensei...
"Ainda bem que cresci.
Hoje não corro mais atrás de pipas". !!!!!
Pensando bem, acho que ainda corro... E como.
Quantas correrias, quanto empenho, quanto risco correndo atrás de troféus absolutamente sem sentido, sem valor real sem significado a não ser de uma simbologia cultural de baixo alcance e nenhuma relevância.
Aí comecei a pensar em algumas pessoas que conheço, que como os meninos
Que vi e que fui, ainda correm atrás de pipas, mas que eles chamam de poder
político, símbolos de status, títulos, riqueza além da riqueza, etc.
Como a corrida é quase generalizada, não há muita visão crítica sobre ela,
E a coisa se passa como se fosse um transe coletivo, uma fantasia partilhada
Por tantos que não há ninguém para dizer:
"Gente cuidado, é apenas uma pipa rasgada!"
Aquela cena moderna e tão antiga, me fez pensar nas disputas em que
Empenhamos a própria vida e cujo prêmio não vai além de uma moeda furada,
De uma pipa sem função.
Quantas vezes me vi disputando ferozmente com alguém por absolutamente nada.
Em quantas discussões ferozes me meti que no final me premiariam com apenas um sabor amargo, ou 'gosto de cabo de guarda-chuva' como dizia um amigo.
Quantos de nós adultos, não somos controlados pelos meninos e meninas que
Fomos?
Quantos de nós ainda acreditamos ser mais fácil perseguir pipas, do
Que identificar e correr atrás de objetivos reais, significativos e
Vitais?
Quantos de nós não nos deixamos iludir pela cultura das pipas 'de ouro',
Que não passam mesmo de pedaços de gravetos e papel?
Quantas vidas, quanto potencial é desperdiçado na corrida sem sentido,
Vazia e pueril da sociedade humana?
Quantos relacionamentos vão pro brejo, porque os casais resolvem disputar
A posse de uma pipa rasgada ou de um 'balão apagado', para só depois de
Separados e infelizes perceberem a imensidão de seu equívoco?
Assim parceiros e parceiras, toda vez que virem meninos correndo atrás de
Pipas perdidas, ou de balões, aproveitem para reavaliar suas próprias
Correrias, seu valores, as apostas que fazem na vida.
Não esperem para colocar suas prioridades em perspectiva apenas no leito de morte.
A vida é uma dádiva, deixe que o vento cuide das pipas perdidas.
Desconheço o autor
Nenhum comentário:
Postar um comentário