sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

DIA DA SAUDADE

A palavra Saudade traz em si, diversos significados que podem ser interpretados de acordo com o contexto onde é aplicado.
Sua origem encontra-se no Latim, Solitate, a conotação contemporânea distanciou-se da original.
Saudade não mais se refere ao sentimento de solidão preservado em variações de línguas românicas como o espanhol: soledad e soledat.

Saudade, "Sentimento mais ou menos melancólico de ausência, ligado pela memória à situações de privação da presença de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável"; ou "Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta.
Pesar pela ausência de alguém que nos é querido". Lembrança e Nostalgia.

Em 30 de janeiro celebra-se o "Dia da Saudade".
Na gramática Saudade é substantivo abstrato, tão abstrato que só existe na língua portuguesa.
Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la ou atribuir-lhe um significado preciso: Te extraño (castelhano), J'ai regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão).
No idioma inglês encontramos várias tentativas: homesickness (equivalente a saudade de casa ou do país), longing e to miss (sentir falta de uma pessoa), e nostalgia (nostalgia do passado, da infância).
Mas todas essas expressões estrangeiras não definem o que sentimos.
São apenas tentativas de determinar esse sentimento que nós mesmos não sabemos exatamente o que é.
Não é só um obstáculo ou uma incompatibilidade da linguagem, mas é principalmente uma característica cultural daqueles que falam a língua portuguesa.

Saudade não tem cor, mas pode ter cheiro.
Não podemos ver nem tocar, mas sabemos o quanto é grande.
Pode ser o sentimento que alimenta um relacionamento amoroso ou apenas o que sobra dele.
Pode ser uma ausência suave ou um tipo de solidão.
Pode ser uma recordação daquele momento e daquela pessoa, que um dia, mesmo sabendo ser impossível, ousamos querer reviver e rever.
É a dor de quem encontrou e nunca mais encontrará, de quem sentiu e nunca mais voltará a sentir.
A saudade se combina com outros sentimentos e procria-se.
A soma da saudade com a solidão é igual a Dor.
O resultado da saudade com a Esperança é a Motivação.

Saudade é uma só, em diferentes palavras.
É comum encontrá-la grafada nas lápides em alusão a dor da ausência provocada pela morte.
Mas na Literatura e na Música é um tema crônico.
É quem arquiteta a estrofe e conduz o tom.
Não importa o gênero literário ou o estilo musical, não importa o autor, a época ou a situação.

Casimiro de Abreu versificou sua saudade da infância: "Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!".

Álvares de Azevedo antecipou a saudade mortal: "Se eu morresse amanhã, viria ao menos / Fechar meus olhos minha triste irmã / Minha mãe de saudades morreria / Se eu morresse amanhã!".

A poetisa portuguesa, Florbela Espanca, também registrou sua saudade: "E a esta hora tudo em mim revive / Saudades de saudades que não tenho... / Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...".

O Rock brasileiro transformou a saudade numa de suas bandeiras. Renato Russo cantou: "nessa saudade que eu sinto / De tudo que eu ainda não vi".

Ainda nas canções de Renato: "dos nossos planos é que tenho mais saudade". Entre o Rock e a MPB, Cazuza, declarou: "Saudade do que nunca vai voltar / E dos amigos que se foram / Eu hoje estou com saudade".
Tom Jobim e Vinícius de Moraes compuseram: "Chega de saudade / A realidade é que sem ela não há paz...".

Saudade é um registro fiel do passado.
É a prova incontestável de tudo que vivemos e ficou impresso na alma.
Ao confessarmos uma saudade, na verdade, estamos nos vangloriando de que, ao menos uma vez na vida, conhecemos pessoas e vivemos situações que foram boas, e serão eternas em nossa alma. Nutri-la, é alimentar o espírito e a própria existência.

Se há tantas e, ao mesmo tempo, tão imprecisas definições de saudade, resta-nos apenas cultivá-la e alimentá-la com pensamentos, músicas, perfumes, fotografias, lugares, fins de tarde e madrugadas.
Saibamos viver plenamente o presente, pois ele será a saudosa lembrança de amanhã.

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